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O poder de compra vai continuar a diminuir durante largos meses, com os consumidores de baixos rendimentos a serem os mais afetados.
A inflação atingiu na Madeira os 7,6% em maio deste ano, o valor mais alto desde setembro de 1993, indicam os dados da Direção Regional de Estatística da Madeira (DREM), mas os economistas prevêm que a inflação na Madeira continue a aumentar e deverá acabar o ano com valores mais altos do que os atuais.
A professora de Economia da Universidade da Madeira, Mafalda Venâncio, acredita que a inflação na Região pode chegar aos 10% no final deste ano.
“A situação da Madeira é particularmente preocupante, tendo em conta o peso do custo de transporte dos produtos. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia pode demorar dez ou 15 anos e a Europa tornou-se demasiado dependente dos mercados destes países”, sublinha, acrescentando que “é necessário encontrar mecanismos alternativos urgentes para suprir a procura, principalmente no que se refere à energia”. “Os próximos meses de inverno serão preocupantes, podendo verificar- se aumentos exponenciais no preço da energia. A procura por energia irá aumentar principalmente nos países nórdicos, onde faz mais frio e o consumo de energia é maior. Tendo em conta a oferta limitada, é expectável um aumento exponencial do preço da energia durante os meses de inverno”, aponta a docente.
Já o presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Economistas, Paulo Pereira, prefere não avançar com números, mas afirma “com elevada probabilidade de sucesso que os números no final do ano serão maiores que os atuais”.
Paulo Pereira destaca, nesse sentido, os dados do Índice de Preços do Produtor (PPI), que obrigatoriamente terão de ser repassados para os consumidores, o que ainda não aconteceu, a periferia e a falta de escala da economia regional, que tudo encarece, e o “sobreaquecimento da mesma, com a explosão de procura que o verão turístico e de férias trará, agravando a pressão sobre os preços”. O economista realça ainda que se o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) arrancar mesmo e na força prometida, mais inflação nos preços vai haver, “pois haverá muito dinheiro novo numa pequena economia a disputar os mesmos recursos, bens e serviços disponíveis.
Ou seja, mais procura, a mesma oferta, nova escalada de preços. Uma verdadeira ‘bazucada.
Aumento do preço dos combustíveis faz disparar preços no consumidor e no produtor
Numa região ultraperiférica em que bens e pessoas só chegam e saem através de aviões e navios a combustível fóssil, em que cerca de 50% da energia consumida tem origem nos combustíveis, em que toda a distribuição interna dentro das ilhas é feita a combustíveis e em que todos os bens de consumo têm grande parte da sua composição ou componentes químicos com origem em combustíveis, é inegável o peso direto e indireto dos combustíveis no disparar do cabaz de preços no consumidor e produtor da Região, explica o economista.
“No progresso humano, tudo é energia. E a energia que precisamos para o planeta e a raça humana sobreviverem e progredirem vem e virá por muito tempo dos fósseis. Fósseis estes que foram perseguidos dementemente por agendas ditas ambientalistas, impedindo e desincentivando mais produção, com novas tecnologias cada vez mais eficientes e amigas do ambiente”, refere Paulo Pereira, acrescentando que “este foi um choque de oferta programado e que agora estão a reverter (veja-se o retorno da Alemanha ao carvão) e em mercado livre. É bem sabido que o maior inimigo dos preços altos são… os preços altos. Ou seja, deixem o mercado funcionar, que a coisa equilibra”.
“Agora, com a fortíssima componente advinda da inflação monetária nos preços em geral (logo dos combustíveis), ao que se acresce o facto de os mesmos serem uma fonte brutal de receita para os governos, e à perseguição ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) aos fósseis, está fácil ver quem causou este disparar dos preços nos combustíveis: os governos. As maluquices do Senhor Putin vieram a tempo de criar uma boa desculpa mediática mais fácil para as massas ‘engolirem’”, sublinha.
Por outro lado, Mafalda Venâncio destaca que o poder de compra vai continuar a diminuir durante largos meses, com os consumidores de baixos rendimentos a serem os mais afetados, já que são os que destinam grande parte do seu salário ao consumo de bens essenciais. Nesse sentido, a docente de Economia considera que devido à gravidade da atual situação, e de maneira a conter uma espiral inflacionista, são necessários choques negativos na procura agregada e que tenham efeitos num curto espaço de tempo. “Não são medidas desejáveis, mas são necessárias e urgentes”, reforça.
“O racionamento do consumo de energia é uma possibilidade. Tomar medidas para consciencializar as pessoas a utilizar mais os transportes públicos é também importante e necessário. No entanto, estes resultados só se irão verificar a longo prazo”, explica. “Neste momento, temos de nos focar com medidas e com resultados a mais curto prazo. Por exemplo, a estratégia do Banco Central Europeu (BCE) de aumento das taxas de juro é o recomendável e expectável para combater a inflação. No entanto, esta estratégia só terá efeito daqui a doze ou mesmo 18 meses. Não podemos esperar tanto tempo”, sublinha a docente.
Em compensação, Paulo Pereira realça que a inflação dos preços é um fenómeno essencialmente monetário e que advém sempre da criação de nova moeda por parte dos Bancos Centrais, e alerta que os preços nunca voltarão à base anterior. “Mesmo daqui a uns anos, se (um grande “se”) atingirmos inflação zero, os preços estabilizam, mas já não andam para trás. O poder de compra perdeu-se e não é recuperado tão cedo, e nada vislumbra que se tomem as medidas corretas para que o seja”, aponta.
Nesse sentido, o economista revela que o Governo da Madeira nada pode fazer relativamente às questões macro europeias e mundiais, pois é mero espetador. No entanto, se há intenção real de amenizar o impacto nas famílias e empresas deverá “fomentar mais economia de mercado, com cada vez menos burocracia, ‘atrapalhos’ e constrangimentos aos empreendedores de todas as dimensões, fomentando, assim, a concorrência, única maneira comprovada de surgirem mais e melhores bens e serviços a preços inferiores”. Por outro lado, deverá “cortar despesa pública (arrefece procura) e assim poder baixar carga fiscal (aumenta o poder de compra real das famílias), sem aumentar a dívida pública.
Não acredito é que haja essa coragem ou capacidade política, pelo que não auguro bons resultados práticos das soluções que vêm sendo anunciadas para o efeito”, conclui o economista.

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