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Ordenamento, mobilidade e perdas de água
1 - Que análise faz da evolução da cidade do Funchal nos últimos 20 anos?
2 - Quais os principais desafios da cidade?
3 - O que considera que falta fazer no Funchal?
Nos últimos 20 anos a intempérie que marcou os madeirenses a 20 de fevereiro de 2010 é apontada como um marco para as diversas alterações que ocorreram no Funchal, contudo apesar dos investimentos realizados são também “vários” os desafios e problemas que aguardam resolução. Na próxima segunda-feira, 21 de agosto, assinala-se o Dia da Cidade do Funchal e, neste que é o 515º aniversário da capital madeirense, o Observatório foi tentar perceber a evolução da cidade, os principais desafios e o que falta fazer/resolver.
Desta forma, o Diário falou com o investigador João Baptista, com o presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Economistas, Paulo Pereira, com o professor universitário e investigador, Hélder Spínola e com a presidente da presidente da secção Regional da Madeira da Ordem dos Arquitectos, Susana Jesus.
Construção de habitação social e/ou arrendamento a preços acessíveis, combater a exclusão social, aprender a “contornar inteligentemente as loucuras monetárias do Banco Central Europeu”, a qualidade ambiental e a minimização dos efeitos das alterações climáticas são alguns desafios que a capital madeirense enfrenta atualmente. Hélder Spínola acredita que nos últimos 20 anos o Funchal “perdeu a oportunidade de evoluir e se adaptar ao século XXI”.
O tão falado ordenamento do território, apontado como um desafio e consequentemente um problema a resolver, é mencionado por João Baptista e Hélder Spínola, que observam que afeta a qualidade de vida e a segurança de quem vive e visita a cidade. Também Susana Jesus identifica a mobilidade como um desafio, considerando que a cidade deve requalificar o seu parque urbano e edificações intercalando-as com uma mobilidade “eficaz e funcional”.
Já relativamente o que falta fazer/ resolver destaque para a redução das perdas de água, a diminuição da produção de resíduos, o aumento da taxa de reciclagem, promoção da eficácia energética e, por fim, Paulo Pereira atenta que a cidade deve permitir que os cidadãos “explorem ao máximo os seus dons naturais”.
Paulo Pereira:
1 - A cidade beneficia da graça de Deus de viver continuadamente em paz praticamente desde a sua existência e de nunca ter sofrido um desastre natural de proporções bíblicas, o que permite um significativo acumular de capital físico essencialmente privado, mas também público, que têm ajudado a economia e consequentemente a vida das pessoas a evoluir em paz social, não implicando isso que o Funchal seja um paraíso na Terra, como nenhum lugar o é. Algum mérito tem de ser dado à nossa história, cultura e legado no respeito pela vida e pela propriedade privada que tem sido pilares fundamentais para que uma capital de uma ilha tão pequena, periférica e nua de recursos, de um país tão pobre e sistematicamente malgovernado, tenha um desenvolvimento continuado há quase 600 anos, obviamente com muitas falhas próprias e dores internas.
Os últimos 20 anos são uma continuidade desse percurso com tendência de crescimento, pautado contudo, pela convivência com crises económicas, os tradicionais ciclos de emigração, alterações paisagísticas, expansão da cidade e tentativas de adaptação da mesma à evolução do mundo e necessidades das pessoas, mais ou menos atrapalhada pelas sistemáticas intervenções dos decisores políticos (locais e de fora) que teimam em querer impor aos outros a sua visão do mundo e centralizar em si o poder de a “transformar” em busca dos eternos “amanhãs que cantam”.
2 - Uma cidade é um organismo vivo e como tal é uma ilusão esperar por atingir um “zenit” existencial, seja ele qual for. Os desafios serão constantes e permanentes, como acontece com todos os organismos vivos. Foi assim na primeira fase contra a floresta original, depois contra os piratas e corsários, depois contra as cíclicas crises climatéricas e suas implicações agrícolas, depois a expansão para fora das muralhas, as redes sanitárias, de água e de eletricidade, as estradas, etc.. Neste momento o principal desafio é a cidade aprender, dentro do sistema que lhe é imposto de fora, a contornar inteligentemente as loucuras monetárias do Banco Central Europeu, das burocracias impostas pela Comissão Europeia, à irresponsabilidade fiscal dos governos de República e aos demandos do Governo Regional.
3 - A cidade não é a resposta para todos os problemas de todos os cidadãos, como também não o é a própria Região nem o país. É um facto que aqui (tal como em qualquer lugar da Terra) nunca haverá tudo para todos e cada indivíduo tem a sua perceção única da cidade e de como esta pode e deve ser adaptada às suas circunstâncias únicas. O progresso do Funchal e aumento de qualidade de vida do máximo de pessoas passará por garantir mais liberdades individuais aos seus concidadãos, não os infantilizando, mas sim responsabilizando-os, motivando-os e permitindo que explorarem ao máximo os seus dons naturais e com isso beneficiar, por consequência natural, todo o colectivo.

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