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Uma análise de Paulo Pereira, Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Economistas.

Lucro somado pelos seis principais bancos portugueses ascendeu a 2,57 mil milhões de euros, no ano passado. Resultados representam um aumento de 70% dos lucros face a 2021.

Os seis principais bancos portugueses tiveram um lucro em 2022 superior ao valor do Orçamento da Região Autónoma da Madeira para o corrente ano.

O atual orçamento regional é de 2,07 mil milhões de euros, enquanto que o lucro somado dos seis bancos ascendeu a 2,57 mil milhões de euros, no ano passado.

De acordo com os resultados que cada banco foi recentemente apresentando, a Caixa Geral de Depósitos lucrou 843 milhões de euros, o Santander [que adquiriu o Banif] somou 568,5 milhões de euros, o Montepio 33,8 milhões de euros, o Novo Banco [que precisou de muita ajuda do Estado] já apresenta lucros de 560,8 milhões de euros, o BPI lucrou 365 milhões de euros e o BCP amealhou 207,5 milhões de euros, apesar dos resultados negativos na Polónia. Ora, estes resultados representam um aumento de 70% dos lucros face a 2021.
Para se ter uma ideia do valor em causa, só os lucros do Novo Banco [herdeiro do BES] foram superiores aos custos de construção do novo Aeroporto da Madeira, na altura calculados em cerca de 500 milhões de euros. Mas há outros exemplos comparativos. Os lucros do Santander em Portugal davam para pagar toda a construção do novo Hospital Central e Universitário da Madeira [estimada em 340 milhões de euros] e ainda sobravam uns bons milhões.

Mas como consegue a banca obter lucros tão elevados, num momento em que a inflação está anormalmente elevada, o que faz retrair o consumo?
É sabido que em tempos de crise há sempre quem ganhe. E a banca está a beneficiar com a subida das taxas de juro do Banco Central Europeu. Com as taxas de referência a subirem, os empréstimos veem os seus juros aumentarem e, com isso, a banca a lucrar.
Além disso, as comissões que os bancos cobram continuam a ser uma importante fonte de receita.
Analisando os resultados agora conhecidos da banca em Portugal, Paulo Pereira, presidente da delegação regional da Madeira da Ordem dos Economistas, começa por situar que os bancos foram “ajudados” pelos governos na anterior crise, conseguindo limpar o crédito malparado, tendo agora apenas “filet”, ou seja, “crédito bom, aquele que paga”.
Por outro lado, continua, “as subidas das taxas de juro permitiram que a banca aumentasse brutalmente as suas margens de lucro”, a que acresce os ganhos com as comissões praticadas pela banca nacional.
“As comissões são sempre crescentes para todos os atos que antigamente até eram gratuitos”, referiu.
Paulo Pereira não está sozinho nesta observação. A 3 de maio de 2022, ainda antes da inflação ser acelerada pela guerra na Ucrânia e as taxas de juro dispararem, a associação de defesa do consumidor Deco afirmava que “os cinco maiores bancos aumentaram em quase 50% o custo das contas à ordem, nos últimos dez anos, quando a inflação acumulada nesse período foi de apenas 8,4 por cento”.
Outro indicador que o presidete da delegação regional da Madeira da Ordem dos Economistas apresenta é a “grande eficiência” na gestão operacional que hoje há na banca, que permite fazer “o mesmo negócio com muito menos gente, com menos balcões e com menos custos”.
“Tudo isso contribui para que a banca atingisse no seu conjunto esses números, que não atingia há muito tempo”, mencionou.
O presidente da delegação regional da Madeira da Ordem dos Economistas chama a atenção para o eventualmente aparecimento de novo crédito malparado este ano, por causa da subida das taxas de juro. O malparado é o crédito cujas prestações as famílias e as empresas não conseguem pagar. “O desafio é saber até que ponto é que as famílias e as empresas vão conseguir aguentar, especialmente as famílias, esta subida das taxas de juro”, advertiu Paulo Pereira, lembrando que o sul da Europa, particularmente Portugal, recorre mais a taxas variáveis do que a taxas fixas no crédito habitação, ficando, por isso, mais exposto às flutuações.

Com a conjuntura a ficar apertada, porque a inflação continua alta, Paulo Pereira considera que essa possibilidade do malparado ressurgir não é apenas um risco para as empresas e as famílias, mas também para a banca.
Para o economista, a solução não passa neste momento pela contratação de créditos com taxas fixas, porque esses novos empréstimos vão refletir as atuais taxas elevadas, mas sim “negociar com o banco” e, ao mesmo tempo, fazer “orçamentos familiares”, percebendo onde pode cortar nas despesas.

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