­

Notícias

Acompanhe e reveja todas as iniciativas desenvolvidas pela Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Economistas.

Crise, produtividade, avaliação e crescimento económico
 
Constitui lugar comum afirmar que a crise coloca em questão todo um conjunto de paradigmas, quadros de referência e modelos de análise. Menos frequentemente referido é o facto de os episódios de crise oferecem oportunidades de relançar debates polémicos e ´fracturantes´ e colocar um ponto de partida à discussão e aprovação de medidas ´radicais´, quando vistas de um ponto de análise situado em épocas de tranquilidade e previsibilidade. Ou seja, a crise abre oportunidades para relançar o debate acerca da produtividade, que neste texto se relaciona com a problemática das avaliações. Ao leccionar a cadeira de Economia Portuguesa e Europeia tive a oportunidade de alertar os meus ouvintes para o facto de os contributos fundamentais da adesão à CEE se situarem também no campo da ciência política e da sociologia. O exemplo citado referia-se à introdução dos processos de avaliação aplicados aos projectos e planos de desenvolvimento regional. Tais processos exigiam, numa óptica de rigor e sustentação metodológica, a definição de objectivos com base em diagnósticos de partida, incluindo-se no processo avaliações ex-ante, intermédias e ex-post. Embora nos anos 60 o exercício de diagnóstico aplicado à economia portuguesa tenha sido importante na sua componente formativa e informativa, apenas após 1986 se pratica a avaliação de projectos e planos de desenvolvimento em larga escala e por imposição comunitária. Tradicionalmente a avaliação em Portugal tem associada uma forte componente pejorativa, em especial quando os resultados resultam efectivamente em classificações negativas. 
 
Tal como referido acima, argumenta-se que os momentos de transição e de crise constituem uma oportunidade para se avaliarem procedimentos e o processo de avaliação em curso. De forma genérica e linear, parece existir um consenso, pelo menos ao nível teórico, que desempenhos de nível elevado caso replicados pela generalidade dos agentes económicos, resultam em níveis elevados de produtividade e consequentemente em crescimento económico. 
 
Infelizmente, existem limites à capacidade de absorção (compreensão, adaptação, adopção) de mudanças radicais por parte dos agentes económicos enquanto seres humanos. Daí que seja possível encontrar estudos na literatura de gestão e comportamento organizacional que advoguem uma política de não investimento em épocas de crise. Em termos práticos, tal significa que a gestão simultânea de crises externas (mudança de paradigma económico, crises internacionais, quebra na procura, etc.) e internas (por exemplo, resultantes da introdução de novas tecnologias) poderá resultar em quebras de produtividade no curto prazo, adicionando mais um elemento de crise á crise em curso. Obviamente que a melhor solução passa pela evolução na continuidade com a introdução de mudanças de forma gradual e continua. Como habitualmente tal não sucede, pelas razões do costume, as discussões fracturantes incendeiam uma paisagem discursiva geralmente já sobreaquecida em resultado da crise. Obviamente que é nestas alturas que existe uma maior sensibilidade para a temática, e muito frequentemente apenas nestas alturas é possível introduzir o incomodo. No entanto sentido de oportunidade não rima necessariamente com resultados de curto prazo. A introdução de mudanças redentoras passa frequentemente pelo aprofundar da crise, e pelo acrescer da instabilidade e desorientação. Trata-se do custo (de oportunidade) da estabilidade num mundo instável.   
      
Por: António Almeida
Professor Auxiliar do Departamento de
Gestão e Economia da UMa 
­