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Opinião de Paulo Pereira
Presidente da Delegação da Madeira da Ordem dos Economistas

Todas as restrições às liberdades humanas decididas por quase todos os governantes do chamado mundo desenvolvido desde Março de 2020 tiveram, como esperado e de forma nada surpreendente, fortíssimas repercussões negativas na situação económica de grande parte das economias mundiais, traduzindo-se no aumento generalizado do desemprego no sector privado, dos endividamentos governamentais, na destruição de capital privado, na redução da capacidade de fornecimento de bens e serviços e no reforço da já elevada tendência de “financeirização” das economias desenvolvidas por substituição do investimento privado produtivo.


Quando se iniciaram os confinamentos, a economia Madeira atravessava um período de cerca de 78 meses de crescimento continuado (ainda que de forma desigualmente sentida pelas diferentes partes da população e já com sinais merecedores de alerta do seu principal “motor”, o Turismo, entre outras lacunas) e o seu governo vinha num processo de desendividamento “pós PAEF” (que só não terá sido mais “agressivo” por causa do ciclo eleitoral intenso que a Região viveu nos últimos anos) que estava a permitir cedências à pressão para repor algum alívio fiscal sobre empresas e famílias, as verdadeiras principais heroínas desse processo de desalavancagem e de crescimento económico que se estava a viver.


Se é um facto que se face aos impedimentos dos mercados emissores de turistas nada havia a fazer nos últimos 16 meses senão seguir a pauta que estava a ser escrita a cada momento pelos seus respectivos governos, já no que concerne ao mercado interno, a decisão de não permitir que parte razoável (a mais jovem, saudável e que não vivesse com grupos de risco) da função pública e do restante sector privado não tivesse a oportunidade de laborar em pleno como o foi (e bem) à construção civil (e, numa escala infinitamente menor no peso global, oficinas e alguns outras atividades) fez com que a retração da economia regional caísse para números impressionantes (acima dos 20%), arrastando consigo a destruição de emprego e criasse condições para o inevitável tsunami de insolvências a que em breve se assistirá (adiado por moratórias, linhas de crédito, algum apoio estatal e pela vacuidade da lei das insolvências portuguesa).


Vamos terminar este experimentalismo que foi o “grande confinamento” e seus posteriores sucedâneos de menor intensidade com um significativo aumento do endividamento do Governo regional (para valores pré PAEF) e do sector privado produtivo (empresas e empreendedores), destruição de muitos negócios e bons postos de trabalho que não voltarão e uma administração pública naturalmente mais amorfa depois de tantos meses de “teletrabalho”.


Sabemos que em economias onde o governo tem dívidas acima de 90% do PIB existem fortes impedimentos ao crescimento económico e que até o multiplicador do investimento público tende a ser de zero ou negativo (cada euro gasto pelo GR terá um impacto de menos que isso na economia). Acresce que o nosso tecido empresarial tem na sua generalidade um grande deficit de capital, essencial ao investimento produtivo e que a sobrecarga de nova “dívida Covid” só veio agravar. Temos ainda os desafios das pressões inflacionistas que já se sentem nas matérias-primas e nos alimentos -que vão retirar competitividade aos bens e serviços cá produzidos e aumentar o custo de vida das populações mais frágeis- criando pressões para as inúteis decisões políticas de aumentar por decreto salários sem aumentos de produtividade. Isto a somar a todas as fragilidades advindas da insularidade ultraperiférica de um país pobre, endividado e estatizado.


Têm aguentado a paz social vendendo esperança numa tal de “bazuca” de fundos europeus, que friamente não parece que vá resolver problemas estruturais da nossa economia (falta de capital, produtividade e competitividade) mas deverá servir de “penso rápido”, adiando por algum tempo dores mais profundas. E é isso que parece contar, o curto prazo, até porque acreditando no economista favorito dos políticos gastadores do dinheiro alheio, “no longo prazo estaremos todos mortos”…

JM p17 290621

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