Paulo Pereira , Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Economistas
Nos dois artigos anteriores de uma série de três originados na presença da Ordem dos Economistas no Fórum “Os madeirenses e o futuro” organizado pela Secretaria Regional do Turismo e por este Diário, vimos que o problema da redução/estagnação demográfica não é necessariamente um problema económico mas sim que tem um impacto grande na economia depois dos governos terem decidido, a partir de certa altura, fazer crescer exponencialmente a sua presença na economia através dos seus gastos ditos “sociais”, sustentados mais cedo ou mais tarde em mais receita via impostos, pelo que precisam de população crescente produtiva a quem possam extorquir recursos.
Num ambiente económico mais laissez-faire, os trabalhadores iriam trabalhar até mais tarde (especialmente agora que o desgaste e a incapacidade física estão a chegar cada vez mais tarde, bem como as melhorias gerais das condições dos postos de trabalho, num ambiente completamente inverso ao verificado quando se implementou a segurança social). Além disso, num país onde os reformados não pudessem confiantemente subsistir à custa dos trabalhadores ativos, aqueles que se reformassem a 100% teriam de cortar substancialmente o seu consumo. E esse é a natural progressão da vida, pois num mercado funcional não é realístico ter expectativas de continuar a manter níveis de gastos da mesma dimensão dos que uma pessoa tinha quando auferia o rendimento de um trabalho a full time (a não ser, claro, que tivesse substanciais poupanças acumuladas).
Mas para a maior parte das pessoas, elas teriam de cortar nos seus gastos quando se reformassem. Contudo, num país/região com um grande número de reformados politicamente ativos (votantes), eles podem continuar a manter ou até a aumentar o seu nível de vida se puderem usar o poder do Estado para subsidiar o seu estilo de vida (não se pretende aqui comparar, de todo, as reformas baixas após muitos anos de descontos com as reformas elevadas oriundas de pouquíssimos anos de vida ativa, normalmente atribuídas a grupos de pressão/conluio com o Estado mais fortes).
E aqui é que temos o nosso grande problema: com uma população em declínio e com mais idosos que jovens na população, o peso de manter os níveis de vida dos reformados vai continuadamente aumentar sobre os indivíduos ativos. A única maneira de manter as reformas ou aumentá-las será via aumento constante de impostos sobre as populações ativas (a “alternativa” é estar a reduzir as reformas e depois, com truques, continuarem governos, câmaras e juntas a oferecer aos reformados viagens, cheques compensatórios, vales farmácia, etc., com o dinheiro para esses gastos a vir, naturalmente dos ... impostos). Isto tem consequências desastrosas, pois afeta a capacidade das gerações mais novas de criarem poupanças e consequentemente a sociedade de investir em capital.
Por outras palavras, os recursos da economia serão desviados da produção de riqueza (pelos trabalhadores ativos) para consumo (dos reformados). Reduz-se capital, poupança e inevitavelmente produtividade e isto sim é uma verdadeira crise, pois condena uma economia ao empobrecimento continuado e inevitável!
Ou seja, uma população em declínio não é necessariamente sinónimo de um problema económico, mas sim de um grande problema político, das decisões dos governos sobre pensões, “direitos” e transferências de riqueza dos trabalhadores ativos para os reformados não produtivos.
Existem soluções várias, nenhuma delas do agrado dos políticos e governantes de carreira, mas que quanto mais cedo forem introduzidas, mais justo para os pensionistas de hoje, mais honesto para os de amanhã, mais correto para os que ainda têm uma longa carreira ativa pela frente e muito melhor para os que que ainda não entraram no mercado de trabalho e até nem nasceram. Fica para outra oportunidade a exploração do tema.