País vende-se: 92 090 Km2, 18 Distritos, 2 Regiões Autónomas, Bom Clima
 
[Esta newsletter vai deixar os mercados financeiros com as orelhas quentes.]
 
No dia em que escrevo este texto, estão reunidos, em Bruxelas, os Ministros das Finanças da zona Euro. Irão discutir uma solução para acalmar os mercados financeiros. Eu perguntava-lhes se já consideraram a hipótese de uma dosezinha de quetamina, mas li que é uma substância psicadélica e não me pareceu grande ideia. Não que seja muito pior que outras medidas que foram tomadas! (Por exemplo, acho de sensatez discutível ir a Zurique falar em capitais ibéricas ligadas pelo TGV.)
 
Questão prévia à de saber como tranquilizar os mercados é (digo eu) a de saber se eles têm motivos para estarem agitados ou se estão a precisar de terapia. Pode não ter sido no livro do Prof. António Pinto Barbosa como eu, mas suponho que os mercados financeiros aprenderam a condição de solvabilidade da dívida pública. Portanto, sabem que, enquanto o rácio da dívida pública sobre o PIB crescer a uma taxa superior que a diferença entre a taxa de juro e a de crescimento económico, o Estado não consegue pagar o que deve. A taxa de crescimento tem sido muito próxima de zero (e nem sempre à direita deste!). Se o PIB não aumenta, o mesmo não se pode dizer do rácio da dívida. O Estado tem de pedir emprestado porque as suas receitas não cobrem as despesas; na impossibilidade de emitir moeda, só tem duas opções: ou se endivida ou aumenta impostos. A primeira faz o numerador aumentar, a segunda reduz o denominador – dê por onde der, o rácio cresce. Cresce também a probabilidade de incumprimento. Ora, quanto maior esta, maior será a taxa de juro (para compensar o risco) e quanto maior a taxa de juro, maior a probabilidade de incumprimento. 
 
E agora, como desatamos este nó górdio?! Será o título deste artigo a solução, pôr o país à venda?! Se eu fosse agente imobiliária, mudaria o anúncio: trocaria o “bom clima” pela “boa localização”. E talvez esteja aí a «tesoura» que nos permitirá dar cabo do nó. Sobre isso escreverei numa próxima ocasião.
 
Por: Vera Barros